Ainda que a tarefa de prever o futuro seja tão ingrata quanto errónea, não arriscaremos muito se antevermos que a sustentabilidade continuará a estar na agenda dos agentes económicos em 2030.

Em 2015, os 193 Estados-membros da ONU aprovaram a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, um programa ambicioso que visa promover o respeito pelo planeta e pelas pessoas. A Agenda é composta por 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) que, por sua vez, são divididos em 169 metas que devem ser cumpridas até 2030 sob o desígnio de "não deixar ninguém para trás". A ameaça das alterações climáticas é agora mais real do que nunca e o atingimento dos ODS é crucial  para assegurar o futuro das próximas gerações.

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De entre os objetivos acordados, onde se destacam o combate à fome e a erradicação da pobreza, há um número considerável que é visivelmente orientado para as questões ambientais, destacando-se o consumo e a produção sustentáveis, o combate às alterações climáticas, a conservação dos oceanos e a utilização sustentável dos recursos marinhos, e ainda a gestão das florestas e o combate à degradação das terras e à perda de biodiversidade.

Os governos têm tido um papel importante enquanto impulsionadores, servindo de exemplo aos restantes agentes económicos e disponibilizando incentivos para que o tecido empresarial de vários sectores-chave da economia materializem essa mudança com vista ao atingimento dos ODS.

No entanto, arriscamos uma vez mais, o principal motor do desenvolvimento sustentável é e será cada vez mais, o consumidor. É este que, cada vez mais informado e sensibilizado para o problema, continuará a tomar opções conscientes no momento da escolha entre o produto ou o serviço A e o B, e a sua preferência cairá, tendencialmente, na solução que, per si, ou pela forma como foi produzido e chegou ao mercado, mais respeitará o planeta e as pessoas.

Se há sectores onde esta mudança está agora a produzir os primeiros efeitos, outros há, como o da hotelaria, onde o paradigma mudou há mais tempo. A indústria hoteleira terá sido mesmo uma das pioneiras na adoção de programas de sustentabilidade ambiental e na compreensão de que esse é um dos fatores que o consumidor valoriza no momento de fazer a sua escolha. Isto porque, na solução de compromisso que os hotéis terão de adotar entre tecnologia e contacto pessoal, a convicção de que se está num sítio que adota práticas sustentáveis contribui, definitivamente, para enriquecer a experiência do hóspede.

Os números falam por si: metade do plástico produzido anualmente destina-se a ter uma única utilização1 e 32% das embalagens de plástico acabam, todos os anos, nos oceanos2. A este ritmo, em 2050, teríamos mais plástico do que peixes nos oceanos3.
Não é, portanto, de estranhar que a pressão pela sustentabilidade esteja a crescer mais do que nunca. Num número considerável de países, começa a surgir legislação que limita o uso de plásticos de utilização única e estudos como o da Simon-Kucher & Partners, revelam que mais de um terço dos consumidores globais estão dispostos a pagar mais pela sustentabilidade e a procura por alternativas ecologicamente sustentáveis aumenta todos os dias.

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Na indústria hoteleira, a sustentabilidade é um dos principais focos e está presente, de forma transversal, em toda a gestão da operação. Os hotéis perceberam a sua importância e comunicam com maior ou menor eficácia as suas políticas para alavancarem a sua reputação e para não deixarem de constar do leque de primeiras escolhas dos clientes. A experiência tem demonstrado que, ao adotarem práticas sustentáveis, os hotéis atraem mais visitantes e poupam dinheiro através de uma gestão melhorada dos recursos.

O que significa um hotel sustentável?

A resposta não é tão simples quanto a pergunta mas podemos simplificar. É um hotel que se preocupa em medir, avaliar e tomar medidas para reduzir ou neutralizar a sua pegada ecológica. Com base nesta premissa, implementa políticas que respeitem o meio ambiente como a gestão dos resíduos, nomeadamente do plástico, o uso e o reaproveitamento da água, a eficiência energética e o uso de energias renováveis, a escolha de materiais, o consumo de alimentos ecológicos de produção local, entre muitas outras.

A limpeza e a escolha dos produtos de higiene pessoal assumem-se como críticos neste capítulo, sendo áreas onde as unidades de alojamento podem reduzir consideravelmente a sua pegada ecológica e, no caso dos produtos de higiene pessoal, vulgarmente conhecidos por “amenities”, por estarem em contacto direto com os hóspedes, são igualmente formas de tornar visível a estes  o perfil ambiental do hotel.

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Longe vão os tempos em que embalagens de plástico, com doses individuais de utilização única, contendo sabonete, gel de banho, champô ou loção corporal eram sinónimo de modernidade e qualidade. As toneladas de resíduos de plástico e o desperdício de produtos químicos têm vindo a tornar esta solução desadequada à luz das preocupações dos nossos dias. Cada vez mais, as cadeias hoteleiras tendem a adotar embalagens maiores, recarregáveis a cada mudança de hóspede, e de preferência feitas a partir de plástico reciclado pós-consumo. Existem já embalagens no mercado onde a percentagem de plástico reciclado chega aos 100%.

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Também ao nível das formulações, muito trabalho tem vindo a ser feito. Fórmulas com ingredientes isentos de microplásticos e de gorduras animais  (sim, a filosofia “vegan” também chegou a estes produtos), criteriosamente selecionados e validados do ponto de vista da biodegradabilidade, permitem a certificação ecológica por parte de entidades independentes de algumas soluções que encontramos no mercado. À semelhança de outros fatores qualitativos, o perfil ambiental tem permitido fazer alguma seleção entre os vários fornecedores de soluções de higiene na medida em que, quando adicionamos critérios ambientais certificados, o número de fabricantes com capacidade tecnológica e recursos para responder aos exigentes cadernos de encargos, diminui consideravelmente. Neste capítulo, é importante para os agentes hoteleiros estarem devidamente informados e saberem o que procurar quando pretendem elevar o perfil ambiental da sua unidade ou cadeia.

Redução dos custos operacionais

Geralmente, quando introduzimos algo de positivo numa operação, isso tem um custo. A boa notícia neste capítulo é que é possível diminuir a pegada ambiental sem comprometer o desempenho e, ao mesmo tempo, reduzir os custos operacionais de um hotel. Ao adotar soluções que permitam reduzir o desperdício, o consumo de água ou de energia, isso terá um impacto positivo na eficiência do hotel e na otimização dos custos. No caso da mudança de amenities individuais para soluções de maior capacidade e recarregáveis, tal pode conduzir a uma redução no consumo de plástico e cartão na ordem dos 70%, o que significa, num hotel com 400 quartos, uma redução anual de 3,5 toneladas. A esta, deverá juntar a diminuição do desperdício de produtos.

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A adoção de um perfil ambiental consciente, com metas de sustentabilidade mensuráveis traduz-se, assim, num cenário “win-win” do qual todos saem beneficiados: o hotel, as pessoas e o planeta. A corrida da sustentabilidade começou há muito no sector hoteleiro e está tecnicamente mais avançada do que nunca. Quem perder este comboio, vive longe da realidade dos nossos dias e dificilmente o conseguirá apanhar mais tarde.

1. Plastic Oceans: www.plasticoceans.org

2. Earth Day Network (2018), Plastic Pollution Primer and Action Toolkit: Earth Day Network

3. World Economic Forum (2016): www.weforum.org